A designer de interiores Radharani Domingos, de 43 anos, viu sua vida mudar radicalmente após uma noite de comemoração em um bar nos Jardins, bairro nobre de São Paulo. Depois de consumir três caipirinhas preparadas com vodca, começou a apresentar sintomas graves de intoxicação. Em poucas horas, perdeu completamente a visão e foi levada às pressas para o hospital, onde chegou a ter convulsões e precisou ser intubada na UTI.
Ainda internada, ela relatou que jamais imaginou passar por algo assim em um estabelecimento de alto padrão. “Era uma região nobre, não era nenhum boteco de esquina. Bebi três caipirinhas de frutas vermelhas com maracujá e vodca. Causou um estrago bem grande.
Não estou enxergando nada”, desabafou em entrevista ao Fantástico. O relato ecoa como um alerta: a adulteração de bebidas com metanol pode estar mais presente do que se imagina, e não se limita a locais clandestinos.

Ação das autoridades e apreensão de garrafas
A gravidade do caso mobilizou órgãos de fiscalização. Em operação conjunta, a Polícia Civil, o Centro de Vigilância Sanitária do Estado e a Coordenadoria de Vigilância em Saúde da Prefeitura apreenderam cerca de 100 garrafas de destilados no bar frequentado por Radharani. A Secretaria da Saúde do Estado informou que um auto de infração foi lavrado contra o estabelecimento. O material recolhido passará por análise laboratorial para confirmar a presença de metanol e apontar a origem da adulteração.
A família de Radharani acompanha com apreensão a evolução do quadro. A irmã, Lalita Domingos, revelou que, embora ela tenha deixado a UTI e sido transferida para o quarto, a visão permanece gravemente comprometida. “O oftalmologista entrou com tratamentos para tentar reverter, mas estamos na expectativa de que algo mude. Até agora não houve melhora”, disse.
Mortes confirmadas e investigação em andamento
O governo de São Paulo também confirmou, no mesmo dia, a terceira morte por intoxicação com metanol na Grande São Paulo desde junho deste ano. Segundo boletim oficial, foram seis casos confirmados, dos quais três resultaram em óbitos. As vítimas foram um homem de 58 anos em São Bernardo do Campo, outro de 54 anos na capital paulista e um terceiro de 45 anos cuja cidade de residência ainda está em investigação. Além disso, há dez casos suspeitos em apuração, enquanto um quarto óbito segue sob análise e outro caso foi descartado.
Esses números acendem um alerta de saúde pública: bebidas adulteradas não estão restritas ao comércio de rua ou a locais de baixo custo, mas podem chegar a bares sofisticados, alcançando consumidores de diferentes perfis. A reincidência de episódios mostra a necessidade de reforço na fiscalização, mas também de conscientização da população sobre os riscos de consumir bebidas de procedência duvidosa.
Uma tragédia que serve de alerta
O drama de Radharani Domingos ilustra a face cruel da negligência e da ganância de quem coloca vidas em risco ao vender álcool adulterado. A designer, que até então levava uma vida profissional ativa, hoje convive com a incerteza sobre a recuperação da visão. Ao mesmo tempo, famílias de outras vítimas já lidam com a perda definitiva de entes queridos.
A tragédia expõe um problema recorrente no Brasil: a circulação de bebidas falsificadas ou “batizadas”, que escapam ao controle oficial e acabam chegando às mãos de consumidores comuns. Para especialistas, o caso deve servir de marco para intensificar operações de fiscalização, criar campanhas de orientação mais amplas e endurecer punições contra quem lucra com produtos que custam vidas.