A dor das famílias dos três técnicos de internet assassinados em Salvador ganhou novos contornos nesta semana com a divulgação de áudios que circulam nas redes sociais e passaram a integrar a linha de apuração das autoridades. As gravações, ainda sob análise, sugerem que o chefe dos trabalhadores teria acompanhado por chamada de vídeo a tortura das vítimas e se recusado a pagar um valor exigido por criminosos para a liberação dos funcionários. O caso aprofunda a comoção e a revolta em torno do crime que abalou a capital baiana.
As vítimas foram identificadas como Ricardo Antônio da Silva Souza, de 44 anos; Jackson Santos Macedo, de 41; e Patrick Vinícius dos Santos Horta, de 28. Os três eram técnicos de uma empresa de internet e foram mortos após serem sequestrados enquanto prestavam serviço na região do Alto do Cabrito, área do Subúrbio Ferroviário de Salvador.

Áudios apontam exigência de pagamento e recusa durante tortura
De acordo com o conteúdo das mensagens que passaram a circular, integrantes de uma facção criminosa teriam entrado em contato com um representante da empresa Planet Internet, exigindo o pagamento de R$ 8 mil — valor descrito como uma suposta “taxa” para permitir a atuação da empresa na área e liberar os técnicos sequestrados.
Os áudios indicam que o contato teria ocorrido por meio de chamada de vídeo e que, mesmo diante do sofrimento dos trabalhadores, o responsável pela empresa teria se recusado a efetuar o pagamento. As circunstâncias exatas, a autenticidade das gravações e a participação de cada envolvido ainda estão sendo apuradas pela Polícia Civil da Bahia.
A empresa se manifestou por meio de nota oficial, lamentando profundamente o ocorrido e afirmando que está oferecendo apoio às famílias das vítimas. No comunicado, a Planet Internet não comentou especificamente o teor dos áudios. “Estamos priorizando o acolhimento das famílias neste momento. É uma dor imensurável para todos os nossos colaboradores”, declarou.
Investigação aponta domínio de facção e operações continuam
A Polícia Civil da Bahia informou que o caso segue sob investigação e que diligências estão em andamento para esclarecer a dinâmica do sequestro, a motivação do crime e a identificação dos autores. A principal linha de apuração considera o domínio territorial de facções criminosas na região onde os técnicos atuavam, hipótese já levantada desde a descoberta dos corpos.
A Secretaria de Segurança Pública (SSP-BA) reforçou que equipes das polícias Militar e Civil mantêm operações no Subúrbio Ferroviário, com ações de inteligência e buscas por suspeitos. As autoridades evitam antecipar conclusões, destacando que somente elementos comprovados tecnicamente serão considerados para responsabilizações.
Especialistas em segurança pública ouvidos por investigadores apontam que a cobrança de “taxas” ilegais para prestação de serviços essenciais é uma prática associada a áreas sob controle do crime organizado. O avanço desse tipo de controle, segundo eles, amplia os riscos para trabalhadores que dependem do deslocamento diário para exercer suas funções.
Comoção, homenagens e debate sobre a segurança de trabalhadores
Nas redes sociais, a repercussão do caso é intensa. Colegas das vítimas organizaram homenagens, vigílias e manifestações pedindo justiça. Familiares relatam indignação diante das informações divulgadas e cobram respostas rápidas das autoridades. Para muitos, os áudios tornaram a tragédia ainda mais dolorosa ao sugerirem que as vítimas teriam sido expostas a uma negociação cruel.
O episódio reacende o debate sobre a insegurança enfrentada por trabalhadores em áreas dominadas pelo crime, onde o exercício da profissão pode se transformar em risco de vida. Entidades sindicais e representantes do setor cobram protocolos de segurança mais rigorosos, além de ações coordenadas do poder público para garantir a circulação segura de serviços básicos.
Enquanto a investigação avança, a expectativa das famílias é por esclarecimentos completos e punição dos responsáveis. O caso dos três técnicos mortos em Salvador passa a simbolizar não apenas uma tragédia individual, mas um alerta sobre os limites da violência urbana e a urgência de políticas eficazes para proteger quem trabalha diariamente em territórios vulneráveis.