Os desdobramentos da operação policial mais letal da história do Rio de Janeiro continuam mobilizando autoridades e órgãos de investigação. Após a megaoperação realizada nos complexos da Penha e do Alemão, que deixou 119 mortos segundo o governo estadual, os corpos das vítimas estão sendo levados exclusivamente para o Instituto Médico-Legal (IML) Afrânio Peixoto, no centro da capital fluminense.
De acordo com a Polícia Civil, as necropsias de casos sem relação com a operação serão realizadas no IML de Niterói, a fim de evitar sobrecarga na unidade central. O local permanece com acesso restrito à corporação e ao Ministério Público, que também acompanhará os trabalhos periciais.
O Departamento Estadual de Trânsito (Detran-RJ) anunciou a instalação de um posto de atendimento emergencial ao lado do IML para acolher familiares das vítimas. Em nota oficial, o órgão informou que “os serviços prestados pelo Detran no local não serão impactados”, reforçando o apoio logístico às famílias que buscam informações e liberação dos corpos.
Paralelamente, o Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) determinou o envio de técnicos periciais independentes para o IML Afrânio Peixoto, com o objetivo de garantir transparência e imparcialidade nas análises dos corpos. A decisão foi tomada após denúncias de execuções sumárias e torturas durante a operação.

Operação Contenção deixa saldo de 119 mortos e 113 presos
Segundo o balanço divulgado pelo governo, 119 pessoas morreram — sendo 58 durante os confrontos e outras 61 encontradas posteriormente na mata da Vila Cruzeiro. A Defensoria Pública do Estado, porém, apresentou um número ainda maior: 130 mortos, o que deverá ser apurado em conjunto com o Ministério Público.
A operação, batizada de “Contenção”, envolveu 2.500 agentes das forças estaduais e foi fruto de um ano de investigações conduzidas pela Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE). O principal objetivo era enfraquecer a expansão do Comando Vermelho (CV) e cumprir 100 mandados de prisão contra líderes e integrantes da facção.

Entre os alvos, 30 seriam criminosos vindos de outros estados, com destaque para o Pará, e estariam refugiados nas comunidades da Penha e do Alemão. A ação também resultou na prisão de 113 pessoas e na apreensão de 10 menores, além da captura de Thiago do Nascimento Mendes, conhecido como Belão, apontado como o operador financeiro do CV e braço direito do chefe da organização, Edgar Alves de Andrade, o “Doca” ou “Urso”.
Operação é marcada por violência e denúncias de abusos
As forças policiais relataram intensos confrontos durante a ofensiva, com drones registrando criminosos fortemente armados fugindo pela mata da Vila Cruzeiro. Contudo, moradores e entidades de direitos humanos classificaram a operação como uma chacina, denunciando indícios de execuções, torturas e desaparecimentos.

O governo estadual defende a legalidade da ação e afirma que os mortos eram integrantes armados do tráfico, mas a gravidade das imagens e dos relatos colhidos nas comunidades motivou a intervenção do Ministério Público e o acompanhamento direto das perícias.
Com o IML lotado e dezenas de famílias aguardando a liberação dos corpos, o Rio amanhece em luto e tensão, enquanto cresce a pressão por respostas transparentes sobre o que realmente ocorreu na chamada Operação Contenção — um episódio que já entrou para a história como a mais sangrenta intervenção policial do estado.