A condenação de uma dentista conhecida no meio empresarial de São Paulo reacendeu o debate sobre assédio sexual no ambiente de trabalho, especialmente quando envolve relações de poder e hierarquia. A Justiça condenou Elaine Larissa Silva Barreira Bressan, conhecida como Larissa Bressan, a 4 anos, 3 meses e 15 dias de prisão por crimes cometidos contra ex-funcionários de sua clínica odontológica.
O caso ganhou repercussão nacional após ser revelado em reportagem exibida pelo Fantástico, o que levou à abertura de inquérito policial e, posteriormente, à ação penal que resultou na condenação. Apesar da decisão, a dentista poderá recorrer em liberdade, conforme previsto na legislação.
Relatos apontam uso de hierarquia para práticas de cunho sexual
De acordo com os autos do processo, ex-funcionários relataram que Larissa Bressan utilizava sua posição de superioridade hierárquica para constranger e submeter empregados a situações de cunho sexual. Os depoimentos indicam que as abordagens ocorriam durante o expediente e, em alguns casos, fora dele, por meio de chamadas de vídeo.
Segundo as vítimas, a dentista fazia “brincadeiras” que evoluíam para toques íntimos não consentidos e exigia que funcionários mostrassem partes do corpo. Há ainda relatos de que ela promovia videochamadas envolvendo homens desconhecidos, supostamente encontrados em sites de relacionamento, colocando os funcionários em situações humilhantes.
A juíza responsável pela sentença destacou que as condutas não eram episódios isolados, mas parte de um padrão de comportamento, sustentado pelo poder que a ré exercia sobre os empregados. A magistrada afirmou que os atos tinham como objetivo satisfazer interesses pessoais da dentista, sem qualquer consentimento das vítimas.
Perfil das vítimas e ameaças reforçaram o contexto de abuso
A decisão judicial chamou atenção para o perfil recorrente das vítimas. A maioria era composta por jovens, muitos em seu primeiro emprego, sem formação superior e em situação de dependência financeira. Os salários giravam em torno de R$ 1 mil, o que, segundo a sentença, aumentava a vulnerabilidade e dificultava qualquer reação ou denúncia imediata.
Outro ponto considerado grave pela Justiça foi o uso de ameaças veladas. Conforme os depoimentos, Larissa Bressan afirmava que nada lhe aconteceria porque o marido seria advogado e o sogro, delegado de polícia. Esse discurso teria sido usado para intimidar os funcionários e reforçar a ideia de impunidade.
A clínica onde os fatos ocorreram, a Hiss Clinical, funcionava em um bairro nobre da capital paulista e tinha imagem associada a luxo e alto padrão. A discrepância entre a aparência sofisticada do ambiente e os relatos de abusos nos bastidores contribuiu para a comoção pública após a divulgação do caso.
Condenação, indenização às vítimas e posicionamento da defesa
Na sentença, a Justiça condenou a dentista a 2 anos, 7 meses e 15 dias de detenção e 1 ano e 8 meses de reclusão, penas que, somadas, totalizam mais de quatro anos de prisão. Parte da condenação pode ter início em regime fechado, conforme avaliação posterior do Judiciário.
Além da pena privativa de liberdade, a juíza determinou o pagamento de indenização equivalente a dois salários-mínimos para cada uma das seis vítimas, reconhecendo os danos morais sofridos pelos ex-funcionários.
Em nota, a defesa de Larissa Bressan informou que teve acesso à sentença e que irá recorrer da decisão, reiterando a inocência da cliente. Os advogados afirmaram ainda que o processo tramita em segredo de justiça e que não serão feitos novos comentários públicos sobre o caso.
O episódio expõe, mais uma vez, a importância de discutir assédio sexual no trabalho, especialmente em contextos onde existe forte desigualdade de poder entre empregador e empregado. A condenação reforça o entendimento do Judiciário de que práticas abusivas, ainda que mascaradas como “brincadeiras”, configuram crime quando violam a dignidade, a liberdade e a integridade das vítimas.