Um caso grave envolvendo abuso sexual contra adolescentes e suspeita de tentativa de encobrimento dentro de um ambiente religioso tem causado forte repercussão no Distrito Federal. Investigações da Polícia Civil apontam que pais pastores teriam minimizado e relativizado denúncias contra o próprio filho, líder de jovens em uma igreja batista, após surgirem os primeiros relatos das vítimas.
O principal investigado é Gabriel de Sá Campos, de 30 anos, que atuava como líder de jovens na Igreja Batista Filadélfia do Guará. Ele foi preso por suspeita de abusos cometidos contra adolescentes ao longo de vários anos. Segundo a Polícia Civil, os crimes teriam ocorrido entre 2019 e 2024.

Declarações dos pais levantam suspeita de tentativa de encobrimento
De acordo com os investigadores, o pai do suspeito — que ocupa o cargo de pastor presidente da igreja — teria classificado um dos episódios denunciados como “brincadeira” e “ato involuntário”. A declaração foi registrada após uma das primeiras denúncias formais, feitas em dezembro de 2024, e causou indignação entre as autoridades responsáveis pelo caso.
A mãe de Gabriel, que também atua como pastora na mesma instituição religiosa, teria adotado uma postura ainda mais grave, segundo a Polícia Civil. Ela teria confrontado diretamente vítimas menores de idade, sem a presença de pais ou responsáveis legais, acusando-as de “falso testemunho”. Para os investigadores, essa conduta pode configurar tentativa de intimidação e revitimização.
As autoridades ressaltam que qualquer abordagem a vítimas menores deve seguir protocolos rigorosos de proteção, justamente para evitar constrangimento, medo ou silenciamento.
Liderança religiosa tentou tratar crimes como “mal-entendido”
Outro ponto destacado na investigação envolve a postura de integrantes da igreja no início das apurações. Em novembro, quando a Polícia Civil deu início às diligências, um diácono da instituição teria classificado as denúncias como um “mal-entendido”.
Segundo os investigadores, ele chegou a afirmar que “problemas da igreja se resolvem na igreja, não na polícia”, frase que passou a integrar o inquérito. Para a Polícia Civil, esse tipo de discurso contribui para a cultura do silêncio e dificulta a responsabilização criminal em casos de violência sexual, especialmente quando as vítimas são crianças e adolescentes.
Especialistas em direitos da infância destacam que crimes dessa natureza não podem ser tratados como questões internas, pois envolvem violação grave de direitos fundamentais.
Investigação aponta múltiplas vítimas e novos depoimentos
Até o momento, a Polícia Civil identificou quatro vítimas, com idades entre 10 e 17 anos à época dos fatos. Os relatos indicam um padrão de comportamento que se repetiu ao longo dos anos, sempre envolvendo adolescentes vinculados às atividades da igreja.
Além das vítimas já identificadas, outras oito possíveis vítimas ainda deverão ser ouvidas pelos investigadores. O objetivo é esclarecer a extensão dos crimes e verificar se houve omissão, conivência ou tentativa de obstrução por parte de terceiros.
O caso segue sob investigação e corre sob atenção especial das autoridades, devido à gravidade das acusações e ao contexto em que os crimes teriam ocorrido. A Polícia Civil reforça que denúncias de abuso sexual devem ser imediatamente comunicadas às autoridades competentes, independentemente do ambiente em que ocorram.
O episódio reacende o debate sobre responsabilidade institucional, proteção de crianças e adolescentes e a necessidade de romper o silêncio em casos de violência sexual, especialmente quando envolvem figuras de liderança e confiança dentro da comunidade.