A Justiça determinou que os bebês trocados em uma maternidade de Inhumas, na Região Metropolitana de Goiânia, deverão ser devolvidos às famílias biológicas após quatro anos de convivência com pais diferentes dos genitores. A decisão envolve dois meninos que nasceram em outubro de 2021 e tiveram a troca descoberta somente anos depois, a partir de exames de DNA. O caso, que causou grande comoção, agora entra em uma fase delicada, marcada por transição gradual e acompanhamento contínuo.
A sentença estabelece que o processo de retorno às famílias biológicas não será abrupto. Pelo contrário, a Justiça determinou um regime de convivência compartilhada, preservando os vínculos afetivos construídos ao longo dos anos. As crianças continuarão mantendo contato com as duas famílias, reconhecendo tanto os pais biológicos quanto os pais socioafetivos, que foram responsáveis pela criação desde o nascimento.

Troca aconteceu em 2021 e só foi descoberta anos depois
Os dois meninos nasceram na manhã do dia 15 de outubro de 2021, em uma maternidade de Inhumas, com apenas 14 minutos de diferença entre os partos. Às 7h35 nasceu o filho de Yasmin Kessia da Silva e Cláudio Alves, que chegou a ser fotografado ainda na maca com pulseira de identificação. Já às 7h49 nasceu o filho de Isamara Cristina Mendanha e Guilherme Luiz de Souza, em outro centro cirúrgico, por uma equipe médica diferente.
Após o nascimento, os bebês foram levados para uma sala comum, sem a presença dos pais, em razão das restrições impostas pela pandemia de Covid-19. Segundo o inquérito policial, foi nesse momento que ocorreu a troca dos recém-nascidos dentro do berçário, sem que ninguém percebesse o erro.
A desconfiança só surgiu anos depois, quando Cláudio Alves, após a separação de Yasmin, solicitou um exame de DNA para confirmar a paternidade da criança que acreditava ser seu filho. O resultado apontou incompatibilidade genética, o que levou também Yasmin a realizar o teste. “Se ele não fosse filho do Cláudio, também não era meu”, declarou na época.
Exames de DNA confirmaram troca entre as famílias
O exame inicial foi realizado no dia 31 de outubro de 2024, mas o laboratório solicitou uma contraprova ao constatar que o material genético da criança não correspondia a nenhum dos dois pais. A partir disso, Yasmin se lembrou de outra família que havia passado pelo parto no mesmo dia e conseguiu contato com eles por meio de um pastor da região.
Ao serem informados da suspeita, Isamara e Guilherme também realizaram exames de DNA com o filho que criavam. O resultado igualmente apontou incompatibilidade genética. Com isso, ficou comprovado que os dois casais estavam criando filhos que não eram biologicamente seus. Testes posteriores confirmaram que houve, de fato, a troca dos bebês ainda na maternidade.
Em dezembro de 2024, a Polícia Civil ouviu diversas testemunhas durante a investigação. O inquérito concluiu que a troca ocorreu dentro do berçário da unidade de saúde, embora não tenha apontado, até o momento, um responsável direto pelo erro.

Justiça define transição gradual e preservação dos vínculos afetivos
Diante da complexidade emocional do caso, a Justiça decidiu que a mudança de guarda deve acontecer de forma progressiva. Durante a semana, de segunda a sexta-feira, as crianças permanecerão com os pais biológicos. Nos fins de semana, a convivência será alternada entre os pais biológicos e os pais socioafetivos, garantindo que os vínculos afetivos construídos ao longo dos quatro anos não sejam rompidos de forma brusca.
A decisão também determinou a alteração das certidões de nascimento dos meninos, que agora passam a constar com o nome de dois pais e duas mães, reconhecendo juridicamente tanto a filiação biológica quanto a socioafetiva. Os meninos completarão quatro anos no próximo dia 15, já sob esse novo arranjo familiar definido judicialmente.
O caso reacende o debate sobre falhas em protocolos hospitalares, especialmente em maternidades, e os impactos irreversíveis que erros desse tipo podem causar. Ao mesmo tempo, a decisão judicial busca equilibrar o direito à origem biológica com a preservação dos laços emocionais, reconhecendo que, ao longo de quatro anos, o afeto também construiu famílias.