O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) quebrou o silêncio e se manifestou pela primeira vez sobre a megaoperação policial realizada no Rio de Janeiro, que deixou dezenas de mortos e provocou grande repercussão nacional.
Após retornar de uma viagem à Ásia, o chefe do Executivo utilizou as redes sociais na manhã da quarta-feira (29 de outubro) para lamentar a violência e defender uma ação coordenada entre os governos federal e estadual no enfrentamento ao crime organizado.
“Não podemos aceitar que o crime organizado continue destruindo famílias, oprimindo moradores e espalhando drogas e violência pelas cidades”, escreveu Lula. Segundo ele, o Brasil precisa atingir “a espinha dorsal do tráfico” para conter o avanço das facções criminosas. O presidente passou a manhã reunido com ministros da área de segurança para discutir medidas emergenciais diante da crise.
Crise e números contraditórios após a operação
A manifestação de Lula ocorre em meio a uma das operações mais letais da história do Rio de Janeiro, realizada nos Complexos do Alemão e da Penha. Enquanto o governo estadual confirma 64 mortes, a Defensoria Pública aponta que o número de vítimas já ultrapassa 130, incluindo civis e suspeitos.
A operação, segundo o governador Cláudio Castro (PL), tinha como principal objetivo prender líderes do Comando Vermelho, mas acabou gerando uma série de críticas de organizações de direitos humanos e autoridades públicas. O episódio reacendeu o debate sobre o uso da força policial em áreas de conflito e a necessidade de estratégias mais amplas de segurança pública.
Lula destacou, em sua publicação, que a repressão isolada não é suficiente e que o enfrentamento ao crime precisa envolver integração das forças de segurança, inteligência policial e políticas sociais. Nesse contexto, o presidente citou a PEC da Segurança Pública, proposta em andamento no Congresso, que pretende unificar e coordenar as ações das polícias federal, civil, militar e penal em todo o país.
Governo federal avalia resposta e possível GLO
O pronunciamento do presidente ocorre em meio a uma troca de acusações entre os governos federal e estadual sobre a responsabilidade pelos altos índices de violência no Rio. O Palácio do Planalto avalia neste momento medidas de apoio à segurança fluminense, incluindo a possibilidade de decretar uma Garantia da Lei e da Ordem (GLO), que permitiria o uso das Forças Armadas em ações específicas de segurança.
A expectativa agora é pela reunião entre Lula e Cláudio Castro, prevista para os próximos dias, onde devem ser definidos os rumos de uma eventual ação conjunta. O governo federal também pretende reforçar a presença da Polícia Federal e da Força Nacional no estado para auxiliar em operações de inteligência e combate ao tráfico.
Com a repercussão do caso e o elevado número de vítimas, o episódio se tornou um divisor de águas nas discussões sobre segurança pública no Brasil, evidenciando a urgência de políticas mais eficazes e humanizadas no enfrentamento da criminalidade.