A tragédia ocorrida na comunidade da Coreia, em Senador Camará, Zona Oeste do Rio de Janeiro, trouxe novamente à tona o debate sobre o acesso de menores a armas de fogo. Durante a madrugada de quinta-feira (30 de outubro), a adolescente Lanna Cristina de Menezes Soares, de apenas 13 anos, foi atingida por um tiro na boca enquanto estava em companhia de dois outros adolescentes. O disparo, segundo relatos, teria sido acidental.
O caso aconteceu em meio à tensão provocada pela megaoperação policial contra o Comando Vermelho, que deixou mais de uma centena de mortos na cidade, incluindo quatro policiais. Em meio ao cenário de violência, a morte de Lanna expôs a vulnerabilidade de jovens que crescem em ambientes dominados pelo medo e pela falta de oportunidades.

Disparo teria sido acidental, dizem colegas
De acordo com informações da Polícia Civil, os dois adolescentes que estavam com Lanna no momento do disparo se apresentaram horas depois na 34ª Delegacia de Polícia (Bangu), afirmando que o tiro foi acidental. Um deles foi apreendido por ato infracional análogo ao crime de homicídio, e o caso agora é investigado pela Delegacia de Homicídios da Capital (DHC), que busca esclarecer as circunstâncias do ocorrido.
Os investigadores trabalham com a hipótese de que a arma tenha sido encontrada ou cedida por criminosos da região, o que reforça o alerta sobre a presença constante de armamentos nas mãos de menores em comunidades controladas pelo tráfico. O corpo da adolescente foi encaminhado para o Instituto Médico-Legal (IML), enquanto familiares e amigos tentam lidar com a dor da perda.
Moradores relataram que a menina era conhecida por ser alegre e estudiosa. A notícia de sua morte provocou comoção entre vizinhos e professores, que pedem mais atenção do poder público para a proteção de jovens expostos a situações de risco extremo.
Triste rotina e debate sobre responsabilidade
A morte de Lanna Cristina reforça um problema crônico do Rio de Janeiro: a convivência diária de crianças e adolescentes com armas de fogo. Para especialistas em segurança e educação, o episódio mostra o quanto a falta de orientação, a curiosidade e o contato precoce com o crime podem transformar segundos de imprudência em tragédias irreparáveis.
O sociólogo e pesquisador Carlos Farias, ouvido pela imprensa local, destacou que “é impossível falar em prevenção sem oferecer educação, acolhimento e alternativas reais para os jovens das comunidades”. Ele lembra que muitos adolescentes acabam sendo atraídos por uma falsa sensação de poder e pertencimento em meio ao tráfico.
Enquanto as investigações continuam, a comunidade da Coreia vive dias de silêncio e luto. Velas, flores e mensagens foram deixadas próximas à casa da menina, em um gesto de despedida e indignação.