Uma tragédia recente abalou a população de Santiago, capital do Chile, após a morte de Marco Antonio Cantillana Paillao, de 28 anos. O jovem, que era tetraplégico e dependia de aparelhos médicos para sobreviver, foi desligado do suporte vital pela própria mãe, Sonia del Carmen Paillao Calfucura, de 51 anos. O caso provocou intensa comoção social e reacendeu discussões urgentes sobre a sobrecarga de cuidadores, a saúde mental e as condições enfrentadas por famílias de pessoas com deficiência.
Segundo a investigação, Sonia confessou o ato por meio de áudios enviados via WhatsApp. Nas mensagens, a mãe relatava estar emocionalmente esgotada e mencionava a decisão de desligar os equipamentos. Em um dos trechos, chegou a dizer: “Eu desconectei o Marco. Diga-me como devo fazer isso, porque não tenho capacidade para cuidar disso.”
Áudios revelam esgotamento e desesperança
A amiga que recebeu os áudios ficou alarmada com o conteúdo e decidiu ir até a residência da família. Ao chegar, encontrou Sonia chorando e admitindo ter desligado o aparelho de ventilação mecânica do filho. Marco morreu antes que pudesse receber socorro.
As mensagens revelam não apenas a decisão extrema da mãe, mas também um quadro de esgotamento psicológico que se acumulava ao longo dos anos. Desde que Marco ficou tetraplégico, após ser atingido em um tiroteio, a família enfrentava uma rotina desgastante de cuidados intensivos, marcada por dificuldades financeiras e pela ausência de suporte institucional.
Esse contexto evidencia o quanto a sobrecarga dos cuidadores pode afetar profundamente a saúde mental. A falta de acompanhamento psicológico e de políticas públicas eficazes de apoio aumenta o risco de situações de desespero, como a que levou à tragédia em Santiago.
Um drama que expõe falhas estruturais
Marco Antonio viveu os últimos anos dependente de aparelhos para respirar e de assistência constante para realizar tarefas básicas. Em 2021, ele conheceu uma amiga que chegou a ajudá-lo temporariamente nos cuidados, durante um período de internação hospitalar. Ainda assim, a maior responsabilidade recaía sobre Sonia, que convivia diariamente com os desafios da rotina de cuidados.
A morte do jovem levanta questões profundas sobre a responsabilidade do Estado e da sociedade no suporte a pessoas com deficiência e suas famílias. Especialistas em saúde destacam que o isolamento, a falta de recursos e o abandono das famílias em situações de vulnerabilidade formam um terreno perigoso, no qual a exaustão pode levar a decisões irreversíveis.
Autoridades chilenas afirmaram que o caso será investigado com rigor, mas admitiram que o episódio é reflexo de uma crise silenciosa, vivida por muitas famílias que cuidam de pessoas com deficiências graves.
O luto da família de Marco agora se mistura a um alerta coletivo. A tragédia mostra que, além de garantir equipamentos médicos e tratamentos, é urgente oferecer apoio psicológico, financeiro e social aos cuidadores, de forma que ninguém precise enfrentar sozinho uma carga tão pesada.