Horas depois da divulgação de um discurso com forte tom simbólico e religioso, a movimentação no entorno da família Bolsonaro ganhou novos contornos políticos. Na manhã desta quinta-feira (25), o senador Flávio Bolsonaro confirmou publicamente que conta com o apoio do pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro, para sua pré-candidatura à Presidência da República.
A declaração veio após a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro divulgar, na noite anterior, um pronunciamento que chamou atenção pelo tom de renovação e por menções diretas a “traições, ainda que venham das pessoas mais próximas”.
O discurso de Michelle foi publicado na noite de quarta-feira (24), no mesmo horário tradicionalmente reservado ao pronunciamento de Natal do presidente da República, atualmente ocupado por Lula. A coincidência de horário e o formato adotado ampliaram a leitura política da mensagem, que rapidamente repercutiu entre aliados, críticos e analistas.

Discurso emula rito presidencial e carrega simbolismo político
A fala de Michelle Bolsonaro foi construída de forma a emular o ritual clássico de um pronunciamento presidencial em rede nacional. Enquanto o discurso oficial de Lula foi antecedido pela tradicional chamada institucional, a ex-primeira-dama utilizou uma frase alternativa: “forma-se, agora, a rede nacional de pessoas de bem que vão transformar vidas e edificar a nação”. A escolha do texto e do horário reforçou o caráter simbólico da mensagem.
No conteúdo, Michelle abordou a necessidade de renovação, resgate de valores e superação de adversidades. Em meio às falas, ela mencionou a existência de “traições”, inclusive vindas de pessoas próximas, trecho que foi interpretado por aliados como um recado interno ao campo político bolsonarista. A ex-primeira-dama também utilizou referências religiosas, associando o nascimento de Jesus a um cenário de desprezo, frieza e maldade, traçando paralelos com o momento vivido por sua família.
A mensagem foi acompanhada por imagens de pessoas com deficiência — área em que Michelle atuou com destaque durante o governo Bolsonaro — além de registros de manifestações bolsonaristas e cenas do ex-presidente internado em hospital. O momento foi descrito por ela como uma provação, narrado de forma emotiva, com direito a choro diante das câmeras.
Comparações com Lula e recados indiretos ao cenário nacional
O pronunciamento de Michelle também ganhou força por contraste com o discurso natalino do presidente Lula. O chefe do Executivo falou sobre um ano difícil, mas afirmou que “todos que torceram ou jogaram contra o Brasil acabaram perdendo”, frase interpretada por analistas como uma referência indireta à derrota do bolsonarismo e às condenações relacionadas a atos antidemocráticos.
Michelle, por sua vez, abordou o tema de forma mais alegórica. Falou em uma família desprezada, em sonhos interrompidos e na necessidade de “nascer de novo”, reforçando a ideia de reconstrução moral e espiritual. O tom religioso permeou toda a mensagem, característica recorrente em suas aparições públicas, especialmente entre eleitores conservadores.
No final do vídeo, Jair Bolsonaro aparece de forma breve, citado como líder e chamado por Michelle de “galego”, apelido usado por ela em outras ocasiões públicas. A referência à aparência física do ex-presidente, segundo analistas, reforça uma estratégia discursiva mais pessoal e emocional, frequentemente adotada pela ex-primeira-dama em contraste com discursos técnicos tradicionais.
Apoio a Flávio Bolsonaro e sinais para 2026
Poucas horas após a divulgação do vídeo, Flávio Bolsonaro confirmou que o pai apoia sua pré-candidatura à Presidência, movimento que intensificou as leituras políticas do discurso de Michelle. A fala da ex-primeira-dama sobre o próximo ano, descrito como “muito importante para o país e para o futuro das famílias”, passou a ser interpretada como um aceno claro ao cenário eleitoral de 2026.
Ao mencionar a necessidade de perseverar apesar das decepções e confiar que tudo está sob o comando de Deus, Michelle reforçou uma narrativa de resistência e continuidade, muito presente entre apoiadores do bolsonarismo. O episódio evidencia que, mesmo fora do cargo, a família Bolsonaro segue articulando discursos e movimentos com forte impacto político, mantendo sua base mobilizada e sinalizando possíveis caminhos para a próxima disputa presidencial.