A decisão de William Bonner de deixar a bancada do Jornal Nacional, anunciada em 1º de setembro, marcou um momento histórico na televisão brasileira. Contudo, em vez de ser apenas uma despedida emocionante após décadas de dedicação ao jornalismo, o episódio foi rapidamente distorcido nas redes sociais.
Uma série de fake news ganhou força, tentando relacionar a saída do apresentador a supostos problemas com vistos internacionais e até a pressões políticas externas.
A onda de boatos que tomou as redes sociais
No X, antigo Twitter, começaram a circular mensagens afirmando que Bonner estaria preocupado com a possibilidade de perder o visto que o permitiria visitar os filhos que vivem fora do Brasil.
A narrativa, sem qualquer base real, foi replicada em diversas postagens e rapidamente alcançou milhares de reações e compartilhamentos. No TikTok e no Instagram, vídeos chegaram a associar a saída do apresentador ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), vinculando o caso a sanções internacionais previstas na chamada Lei Magnitsky, legislação norte-americana que impõe restrições a pessoas acusadas de violar direitos humanos.
Esses conteúdos sugeriam que Bonner poderia estar sendo alvo de represálias internacionais por supostas críticas feitas a Donald Trump e Jair Bolsonaro, em uma clara tentativa de associar o jornalista a disputas políticas globais.
O que há de verdade na história
A checagem dos fatos mostra que nenhuma dessas alegações procede. William Bonner não tem filhos vivendo nos Estados Unidos, como afirmavam as publicações falsas. Sua filha Beatriz mora no Brasil, enquanto Vinícius e Laura vivem na França.
Nesse caso, sequer há necessidade de visto para visitas curtas: cidadãos brasileiros podem permanecer em território francês por até 90 dias sem exigência de documentação especial.
Portanto, a narrativa de que o jornalista estaria preocupado com a perda de vistos ou sofrendo represálias internacionais não encontra respaldo na realidade. A saída do Jornal Nacional foi anunciada pelo próprio apresentador com naturalidade, em tom leve e pessoal, reforçando que a decisão estava relacionada ao desejo de descanso após anos de intensa rotina de trabalho.
O impacto da desinformação e o papel das redes
Casos como esse mostram como figuras públicas, especialmente jornalistas de grande visibilidade, tornam-se alvos frequentes de campanhas de desinformação. Ao explorar temas políticos e internacionais, criadores de conteúdo falso conseguem engajar públicos polarizados e aumentar o alcance de suas postagens, mesmo que à custa da verdade.
A situação também expõe o desafio de combater a circulação rápida de boatos em plataformas digitais. Enquanto a despedida de Bonner poderia ter sido apenas uma oportunidade de celebrar sua trajetória, acabou sendo distorcida por narrativas fabricadas para gerar polêmica.
Uma saída marcada pela credibilidade
William Bonner deixa a bancada do Jornal Nacional como um dos apresentadores mais longevos e respeitados da história da televisão brasileira. Seu nome está associado à credibilidade e ao compromisso com a notícia. A propagação de boatos em torno de sua saída não apaga esse legado, mas serve de alerta para a necessidade de checar informações antes de compartilhá-las.
No fim, a decisão de Bonner não teve relação com pressões externas, tampouco com vistos internacionais. Foi, sobretudo, uma escolha pessoal, após anos de dedicação à comunicação e ao jornalismo. E essa é a versão verdadeira de sua história.